A instituição do Código Nacional de Trânsito no Brasil gerou a expectativa de que educar os motoristas talvez fosse uma missão possível. Infelizmente os índices de violência entre os condutores nos deixa a sensação de que este instrumento coativo não é o suficiente para que logremos êxito nesse difícil concurso. Basta observarmos a não adoção de atitudes tão absolutamente simples, como parar o carro diante da faixa de pedestres, na qual estes estejam atravessando, que logo nos salta uma questão: se a omissão a uma norma, cuja prática não necessitaria de previsão jurídica ao exercício é tão vergonhosamente desrespeitada, como crer na reversibilidade da des-educação dos nossos condutores?
A terrível marca da brutalidade no trânsito brasileiro me deixa perplexo, pois essa realidade urbana me leva a considerar o quanto a falta de educação e violência estão irmanadas. Ambas são como causa e efeito, elementos simbióticos alimentados pela total incapacidade de enxergar o outro, aquele-que-passa, de corpo inteiro, e que, em sua tentativa de seguir, se vê tolido, preso em zona livre, pois o sinal de simbologia ética (a faixa), que deveria refrear os que se guiam sobre 'pés' de borracha, não é suficiente para que o vejam.
De fato a faixa é uma vergonha, pois a sua implementação nas vias automobilísticas é uma tentativa desesperada de chamar atenção para o outro, de sensibilizar o motorista de que o horizonte asfáltico a sua frente não é tudo. A ironia reside no fato de que se para enxergar o outro recorre-se à listas brancas na pista, estamos mesmo perdidos!...; pois, ao ignorar o pedestre, o condutor não estará olhando em direção alguma, muito menos ao chão, pois se carne e osso não lhe perturbam, imagine se umas listinhas no asfalto o incomodarão!
Em verdade tal percepção se consolidou em mim quando em três ocasiões resolvi correr o risco -calculado é claro- de atravessar uma faixa no centro de Salvador, sob a esperança de que talvez o meu gesto pudesse ajudar na cegueira dos condutores. Péssima idéia, pois em todas as tentativas estive na iminência de ser atropelado, e o que é pior, em uma delas o indivíduo lançou-se em minha direção, numa demonstração de que o meu ato, em sua avaliação, corresponderia a um desafio, tamanha a fúria que dele se apoderou, gerando em mim a convicção de que é preciso pensar mil vezes antes de se tentar abrir os olhos a um cego.
Ora, se a faixa for verdadeiramente um símbolo ético, ao qual deve-se atentar pois sinaliza para a presença do outro, embora seja vergonhoso e demonstre nossa carência como entes civis a necessidade dela balizar parte de nosso comportamento no trânsito , desrespeitá-la significa omissão não só a uma previsão normativa, mas prova inconteste de que os homens que viviam em cavernas eram no mínimo mais prudentes que esta geração, pois os limites estavam naturalmente colocados, fosse na reclusão que o ímpeto de uma tempestado provocava, ou no recuo estratégico ao deparar-se com uma fera faminta.
Se os tão propalados valores éticos, cuja essência está assentada na percepção do outro como semelhante, e que configuram os limites à conduta pós-moderna se transformaram em devaneio filosófico, estamos mesmo experimentando um tremendo retrocesso, pois, se o homem primitivo descobriu a roda, as feras-cegas contemporâneas lhe deram uma função pouco auspiciosa.
A terrível marca da brutalidade no trânsito brasileiro me deixa perplexo, pois essa realidade urbana me leva a considerar o quanto a falta de educação e violência estão irmanadas. Ambas são como causa e efeito, elementos simbióticos alimentados pela total incapacidade de enxergar o outro, aquele-que-passa, de corpo inteiro, e que, em sua tentativa de seguir, se vê tolido, preso em zona livre, pois o sinal de simbologia ética (a faixa), que deveria refrear os que se guiam sobre 'pés' de borracha, não é suficiente para que o vejam.
De fato a faixa é uma vergonha, pois a sua implementação nas vias automobilísticas é uma tentativa desesperada de chamar atenção para o outro, de sensibilizar o motorista de que o horizonte asfáltico a sua frente não é tudo. A ironia reside no fato de que se para enxergar o outro recorre-se à listas brancas na pista, estamos mesmo perdidos!...; pois, ao ignorar o pedestre, o condutor não estará olhando em direção alguma, muito menos ao chão, pois se carne e osso não lhe perturbam, imagine se umas listinhas no asfalto o incomodarão!
Em verdade tal percepção se consolidou em mim quando em três ocasiões resolvi correr o risco -calculado é claro- de atravessar uma faixa no centro de Salvador, sob a esperança de que talvez o meu gesto pudesse ajudar na cegueira dos condutores. Péssima idéia, pois em todas as tentativas estive na iminência de ser atropelado, e o que é pior, em uma delas o indivíduo lançou-se em minha direção, numa demonstração de que o meu ato, em sua avaliação, corresponderia a um desafio, tamanha a fúria que dele se apoderou, gerando em mim a convicção de que é preciso pensar mil vezes antes de se tentar abrir os olhos a um cego.
Ora, se a faixa for verdadeiramente um símbolo ético, ao qual deve-se atentar pois sinaliza para a presença do outro, embora seja vergonhoso e demonstre nossa carência como entes civis a necessidade dela balizar parte de nosso comportamento no trânsito , desrespeitá-la significa omissão não só a uma previsão normativa, mas prova inconteste de que os homens que viviam em cavernas eram no mínimo mais prudentes que esta geração, pois os limites estavam naturalmente colocados, fosse na reclusão que o ímpeto de uma tempestado provocava, ou no recuo estratégico ao deparar-se com uma fera faminta.
Se os tão propalados valores éticos, cuja essência está assentada na percepção do outro como semelhante, e que configuram os limites à conduta pós-moderna se transformaram em devaneio filosófico, estamos mesmo experimentando um tremendo retrocesso, pois, se o homem primitivo descobriu a roda, as feras-cegas contemporâneas lhe deram uma função pouco auspiciosa.