sábado, 29 de agosto de 2009

Parabéns, amigão!


A educação compreende um processo no qual podemos construir os conteúdos básicos e os mais complexos em nossa trajetória como indivíduos; e não me refiro apenas à educação formal, aquela em que as convenções humanas costumam se incrustar, seja por mecanismos empobrecidos de avaliação - leia-se vestibular - marcados pela prerrogativa de premiar alguns em prejuízo de uma maioria estigmatizada pela noção de fracasso, percebidos, desde cedo, nos estágios iniciais da educação burocrática, amante dos egos de condutores educacionais cegos e insensíveis, mas refiro-me, sobretudo, ao projeto superior de educação, o qual realiza-se no palco e subjetividade dos sonhos, na fantasia capaz de fazer pulsar o mais débil coração. Falo da educação forjada a partir dos encontros, endereçada aos que, embora trôpegos aos olhos do mecanicismo pedagógico vigente, segue educando-se nas veredas da vida.

O educar-se pela vida não se confunde com o submeter-se a disciplinas, hierarquias, verticalismos autoritários e desconectados com a função de nossa existência, qual seja usufruir da ação pedagogizante e humanizadora da solidariedade, do respeito não imposto, da amizade. Nas palavras do saudoso Paulo Freire, reinventar-se (educar-se) na vida, se constata basicamente na capacidade de apreensão das mais sútis evidências de que o ambiente circundante está para além da percepção imediata, habita na capacidade de encantar-se com a beleza da higiene de sanitários escolares, jardins, cadeiras, enfim, com a ambiência só constatável aos que não sucumbiram ante os modelos pedrados da fôrma educacional.

Diante disso, proponho não a absoluta desinstitucionalização do roteiro educacional - pois seria utopia -, embora considere que frequentar obrigatoriamente uma escola não difere muito de um culto religioso, de assembléias em sinagogas, templos cristãos, mesquitas, mas o deflagrar de uma doce revolução que seja capaz de provocar uma ruptura com essa espécie de mobilidade pendular que a educação institucional estabeleceu como dogma.

O que seria então essa "doce revolução?" Tão somente a promoção de uma prática pedagógica que permitisse às crianças tempo para captarem os tesouros sutis do ambiente circundante; do universo que pode habitar uma casca de noz; da relatividade das verdades absolutas; da sinuosidade de uma linha reta; do encontro com pessoas; consigo mesmas; do questionamento; do pensamento. De fato os estudantes não tem tempo para pensar. O tempo que dispõem é para o cumprimento fetichista de tarefas. Einstein disse que enquanto esteve todo o tempo mergulhando em suas equações não conseguia decifrar o universo, mas, quando deixou-as um pouco de lado, teve tempo para pensar; então a relatividade geral e restrita brotaram tal qual as águas de uma represa a arrebentar suas comportas, e o universo inteirinho foi relativizado.

Tenho um querido amigo, seu nome é Rafael, dotado de inteligência e capacidade incomuns; sua generosidade é tão espontânea que o torna capaz de subverter a lógica das coisas... Qualquer pedido que lhe faço é como se estivesse lhe prestando um favor, tal a alegria que tem em servir. Ontem Rafa compartilhou comigo a sua alegria pela aprovação no vestibular da UFBA, porém, o que verdadeiramente o realizara não era a aprovação em si, pois era mais que previsível, mas a possibilidade de encher seus pais de orgulho. Esses de fato devem orgulhar-se dele e de si mesmos, pois as vitórias de seu primogênito são resultado de um investimento de muito amor, e, portanto, meu amigo é um grande exemplo de quem lê a vida fora do script institucional, pois a UFBA não é a Meca dos vestibulandos, mas o meio para retribuir aos que nele investiram.
Sucesso aos muitos Rafas que não se deslumbram com o 'ticket' de ingresso a uma respeitável instituição, mas faz dela um meio para instituir a pedagogia que se pratica na vida.
Parabéns, amigão!