domingo, 31 de agosto de 2008

Manipulação moderna e o pensar autônomo




A modernidade inaugurou uma inesgotável fonte de possibilidades ao homem, e este mergulha , buscando consumir, em velocidade cada vez mais surpreendente, as fabricações neoliberais que tanto encarceram a individualidade e roubam a autonomia intelectual.
Desde sua concepção, o programa capitalista apontava para a constituição de uma sociedade ocidental baseada em uma absoluta coesão, num formato autoritário e manipulador incapaz de aceitar a diversidade. O pensamento burguês concebeu as bases para um modelo social no qual o indivíduo não poderia se pertencer, mas apenas atuar, sob a batuta da divisão social do trabalho, como peça que se incorpora à engrenagem do paradigma vigente. A modernidade afirmou tais pressupostos em nome de uma sociedade harmônica, cujos reflexos nos alcança em todas as dimensões da vida: no cartesiano sistema educacional, nas artes, música, mídia, enfim, na totalidade dos segmentos. Desse modo, busca-se rechaçar qualquer manifestação de idéias que não se enquadrem no roteiro do mercado, para o qual, somos fantoches guiados ao sabor das conveniências.
Nessa perspectiva, o modelo de educação vigente dilui a afirmação do indivíduo como construtor de idéias, pervertendo o sentido original do educar, qual seja humanizar para a cidadania, à medida que estigmatiza os indivíduos ao gerar um cisma educacional que os divide em uma minoria "capaz" e uma ampla maioria de "incapazes" e/ou "ruins"; as manifestações artísticas não raro vêem-se forçadas a não apenas cumprir seu papel de intérpretes da realidade, mas servir de instrumento ao doentio apelo comercial, no qual o mercado protagoniza a cena artística ao ditar os "modismos", em outras palavras, o que deve ser consumido. Embora a criatividade musical tão peculiar ao Brasil nos coteje com uma infinidade de gêneros, o que representa uma salutar convivência com o diverso, é de estranhar que pouquíssimas tendências predominem neste cenário, revelando, de acordo com o compositor Arnaldo Antunes, a necessidade de questionarmos os conteúdos massificantes impostos a partir do que significa nossa real necessidade ao perguntar "você tem fome de quê?"
Porém, a indústria não está preocupada em realizar nenhum processo de escuta, pois, ao capital, apenas interessa atuar sob a concepção de que as massas não passam de bestas-feras ávidas pelo novo, que se torna obsoleto ao cabo de poucos dias, e, nessa direção, a manipulação midiática desempenha um papel preponderante ao plano de captura do mercado, uma vez que impõe sua seletividade, caracterizada pelo critério puramente mercadológico, no qual a mediocridade é seu parâmetro.
No entanto, a dinâmica das relações sociais aponta alternativas que corroboram a percepção de que "o novo sempre vem", embora, na maioria das vezes, marcado por traumas. Assim foi com o processo de redemocratização que várias nações experimentaram no século vinte, para o qual, a inércia deu lugar ao dinamismo da mobilização política que relativizou regimes autoritários.
Diante disso, ao homem moderno se impõe o desafio de reinventar-se, de expandir-se, libertando-se dos violentos apelos midiáticos, os quais se orientam sob o propósito de fabricar consumidores homogêneos, tais como peças que se originam nos departamentos de produção das indústrias. Para tanto, vale a pena apostarmos na diversidade como promotora de uma estética comportamental que rompa com o implacável esquema de manipulação e vigilância a que estamos submetidos, exigindo do homem coragem para questionar a agenda moderna, que se traduz na ditadura do consumo dos dias festivos, nos enlatados programas televisivos, previsíveis pacotes artísticos, bem como no imperativo padrão da estética corporal - elementos comprometidos em suprimir qualquer proposta de originalidade.
Resta-nos, portanto, adotarmos uma dose de hostilidade aos mecanismos sociais alienantes, cujo discurso nega sistematicamente a possibilidade do homem agir e pensar sob critérios mais subjetivos, criando indivíduos cada vez mais iguais e insensíveis ao tirânico poder da manipulação dos tempos modernos.




















terça-feira, 5 de agosto de 2008

Big Brother: um olhar fulgurante








Queridos amigos, a semana passada a cidade do São Salvador da Bahia foi palco de mais um debate eleitoral, transmitido por uma emissora de TV, no qual os candidatos a prefeito reafirmaram a democracia como instrumento construtor dos nossos mais sublimes sonhos, docemente cultivados pela retórica e habilidade argumentativa, embora o fato mais marcante desse exercício democrático não tenha sido as tradicionais promessas, e sim, o "Big brother."
Imagino que neste exato momento você está começando a entrar num estado de perplexidade, já que é difícil imaginar um ponto de contato entre o consagrado programa global e um evento de discussão política; porém, há mais mistérios entre o Ryalith Show e as bravatas eleitoreiras do que sonha nosso vão pensamento, e tal constatação surgiu de uma curiosa proposta do candidato ACM Neto, o qual visa coibir a violência na primeira capital do Atlântico Sul a partir da instalação de câmeras de vídeo, cuja implantação se estenderia para toda a cidade. O interessante é que este 'olhar' permanente - estratégia oriunda da sociedade contemporânea do controle e da vigilância, descrita há muito por Michel Foucalt -, foi defendida pelo candidato Neto como um componente inovador no combate ao crime. Sua não menos inovadora forma de nomear o projeto (Big brother), revela que sua assesoria busca, no mínimo, acompanhar o diapasão dos fenômenos midiáticos, pois se o "Big Brother" da TV globo possui como principal característica o acesso de enorme parte da população nacional à intimidade das "celebridades instantâneas", o escopo de sua proposta reside no monitoramento das ruas, em que o Estado coloca-se em situação de vigília sobre os indivíduos, prometendo levar para o "paredão" os transgressores.
O candidato não mediu esforços para tentar demonstrar que seu diferencial em relação aos demais era a juventude, com a afirmação constante de que possuia o "brilho nos olhos", marca, segundo ele, fundamental para conduzir Salvador a uma nova era, a um momento de ruptura com práticas políticas que não mais se alinham com a emergência dos novos tempos. Porém, é difícil acreditar em novos tempos - pelo menos em matéria de política -, uma vez que a grande maioria das tentativas de inaugurar novas rotas para o exercício político no Brasil invariavelmente se frustram, pela necessidade das tais alianças que objetivam garantir governabilidade, bem como o gosto pelo poder, o qual parece exercer sobre os que lidam com a coisa pública um fascínio semelhante ao de uma criancinha em relação a um doce.
Certamente que promessas para adoção de medidas impactantes na área da segurança pública devem pautar-se numa visão descentralizada da administração municipal, pois imaginar o governo estadual como agente isolado no processo de realização da paz social é, no mínimo, um equívoco. Sob esse ângulo, a idéia de espalhar câmeras pela cidade de Salvador não parece ruim, porém, o tema começa a se problematizar à medida que a estrutura logística necessária seria de proporções gigantescas, sobretudo, em razão de tratar-se de uma das maiores metrópoles do país, cujo investimento distoa da emergente prioridade que deve-se assumir em relação à educação e saúde, por exemplo. Não obstante, ele evadiu da explicação de como o município construiria tamanha infra-estrutura, preferindo recorrer ao tal brilho no olhar, o qual, segundo pode-se inferir, corresponderia a um traço fundamental que deve caracterizar o perfil do novo gestor da cidade soteropolitana.
Após o término do entediante debate, percebi que não se tratava de mais um, e sim, daquele que pode vir a transformar-se num referencial de como as soluções para os problemas públicos dependem do fulgor no olhar do que rege ou propõe-se administrar a máquina pública, pois, segundo a teatral atuação do supostamente fulgurante candidato, a qual, mais parecia uma paródia do personagem "jovem", de Chico Anísio, é preciso superar a reacionária atitude dos que tentam por freios ao audaz espírito da juventude, onde, querido leitor(a), mantive a expectativa permanente de que a qualquer momento ele repetiria o falacioso bordão: "Pô, eu sou jovem! Jovem é outra coisa, jovem é outro papo..."
Conquanto tenha visto frustrada a minha expectativa, debrucei-me a pensar a questão da vigilância através de câmeras, não apenas sob a noção de que o delírio presente nos discursos políticos são capazes de tecer as mais inusitadas peças, mas, também, compreendendo como os fenômenos da mídia repercutem de tal modo, que nem as disputas eleitorais deixam escapar a oportunidade para apropriar-se deles a fim de consubstanciar suas falácias.
Não desejo, querido amigo(a), que construa uma imagem distorcida de minha pessoa, pois também sou ainda jovem, mas devo confessar-lhe que uma dose de neurastenia às vezes se faz necessária para contrapor essas pulsões que nascem da vaidade e sede de conquistar a qualquer custo. Reconheço o valor das idéias e ações que tenham por objetivo compartilhar com as diferentes esferas estatais o compromisso de combate ao crime, mas, - à semelhança mítica - fazer da discussão sobre segurança uma oportunidade para manifestações explícitas de narcisismo é por demais cômico.
Entretanto, esse 'Narciso' às avessas, não propõe-se a contemplar apenas a sua própria imagem, mas, também, a do 'povo brother', na qual a câmera representa sua presença - ainda que virtual - nos espaços públicos, buscando garantir seu cintilante e ao mesmo tempo frio e distante olhar.
Maurício Alves.

















quinta-feira, 31 de julho de 2008

Divina câmara clara


O universo ilimitado de possibilidades para realizações humanas nos faz enxergar que essa inesgotável fonte criativa manifesta-se numa infinitude surpreendente, levando-nos a questionar se as tais "incapacidades físicas" não seriam um projeto especialmente desafiador de Deus para os seus portadores.
Após assistir um vídeo na internet, no qual o genial Stevie Wonder interpretava "Falling in love with Jesus" - hino do cancioneiro gospel americano -, algo começou a incomodar-me; pois a transcendência de sua qualidade artística eleva-o para além do virtuosismo músical, e instila em minha alma a fé de que o convívio nas trevas da cegueira carnal o capacitou, de algum modo, a pintar sua eterna noite com cores cintilantes.
Sem dúvida que a pulsão poética que está para além da palavra, a qual creio firmemente habitar em cada ser humano, afirmaria que a música está dentro de todos nós; portanto, inventar e recriar melodias é uma tarefa que todos, de certa forma, exercemos ao longo da vida. Porém, o Stevie sempre me passa a sensação de que seu canto angelical é a mais perfeita tradução de como uma alma exulta por poder romper as cadeias do que a humanidade resolveu denominar deficiência.
Sempre tive a convicção de que as pessoas estigmatizadas por alguma restrição física são as mais propensas para explorar a criatividade, e essa percepção resulta do fato de que elas, no fundo, não são portadoras de "necessidades especiais" ou características "incapacitantes", mas detentoras de uma maneira muito especial de lidar com sua subjetividade.
Nesse contexto, talvez a palavra especial verdadeiramente dê um melhor foco à perspectiva pela qual observo a questão, e, nesse sentido, me deixo guiar pelo pressuposto de que a perda de uma faculdade permite apurar tantas outras, o que nos leva inferir que a criatividade deve ser compreendida como a forma de inteligência caracterizada pela capacidade de adaptar, redefinir, tocar, ou simplesmente olhar, de uma maneira toda inovadora, tudo que nos circunda.
Por esse motivo, agradeço a Deus - e a quem mais poderia? - por guiar, com tanto carinho, nas inúmeras trevas da existência, aqueles que não se deixam limitar pela poda de nossos preconceitos, pois com um registro todo especial Ele fotografou cada um deles e guardou-os em seu memorial, no qual nem o volume dos fios de seus cabelos escapa; e, nesse registro, a generosa abertura do diafrágma em Sua câmara clara, lhes permite enxergar com olhos de águia; no obturador dela, Ele fez repousar uma velocidade que só não excede à da própria luz, que penetra-lhes o espírito, revelando, de infinitas maneiras, o quanto Sua criatividade faz de todos nós, a despeito de qualquer diferença, "a sua imagem e semelhança".
Glorificado seja o Teu nome para todo o sempre, Senhor Jesus Cristo!

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mutantes: caminhos da alienação


A teledramaturgia no Brasil além de provar sua vocação para compor produções marcadas pela capacidade de interferirência na vida dos telespectadores - seja por engendrar modismos ou ideologias -, demonstra agora um período de tal modo ousado, que a utopia macabra, fruto da megalomania norte-americana, invade nossas telas, na qual seres mutantes personificam e projetam uma evasão da realidade capaz de assemelhar-se a qualquer engajamento ideológico holywoodiano outrora realizado.
Pois é, as novelas brasileiras que sempre se notabilizaram pelo fato de melhor incorporar a máxima "a arte imita a vida", aponta-nos, quem sabe, para uma era em que a ficção televisiva no Brasil não mais imita, e sim, 'cria a vida.' Pois essa é a tônica da novela Os mutantes, exibida pela tv Record, na qual uma geneticista psícopata manipula embriões em labaratório de modo a "aperfeiçoá-los", criando uma geração que carrega em seu código genético referências as mais diversas, as quais os dotam de poderes igualmente distintos.
Para além da percepção de que essa novela constitui-se apenas numa nada exitosa tentativa de plágio do clássico "A ilha do Dr° Monroo", e guia-se pela perspectiva da concorrência midiática - o que o faz, de fato -, ocorreu-me que essa utopia nos acompanha há muito tempo, e não reproduz apenas a maneira simbólica dos Estados Unidos da América marcarem o seu imperialismo, o qual se manifesta também nas produções de sua poderosa indústria cinematográfica, mas, arrisco dizer, que a desesperada tentativa humana de superar os limites impostos por nossa própria constituição biológica nos acompanha desde eras imemoriais.
A Bíblia nos relata que houve um homem, da geração de Caim, filho de Adão, chamado Ninrode, do qual provém a antiga expressão do Oriente médio:"Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor", o qual fundou a proverbial cidade de Babel, situada na planície de Sinear, que em assírio é Bab-ilu, porta de Deus; em hebraico o verbo balal significa confundir(Gn10.10). De modo ainda que parcial, todos nós já ouvimos falar da história, na qual os homens, após o dilúvio, fizeram tijolos e fundaram essa cidade, a qual esperava-se que se torna-se o centro do mundo.(Gn11). Ora, sabe-se que uma torre presta-se ao propósito da vigilância, e compreendendo que aquela população derivava da que escapara da terrível enchente planetária - ou seja, Noé e seus filhos -, é de se especular que um certo temor apocalíptico se apoderasse deles, levando-os assim a edificar a grande torre de Babel.
O fato, é que, segundo as sagradas escrituras, Deus irou-se com os construtores da grande torre, pois o orgulho apoderou-se do coração deles à medida que conceberam o desejo de que a torre chegasse aos céus. Certamente a tentativa do homem tornar-se tal qual a transcendência Divina não se limita a manifestações de autodivinização, como foi o caso de César Augusto, em Roma antiga, mas estende-se a atitudes nas quais indivíduos, ainda que na ficção, buscam superar os limites de nossa matérialidade.
Há ainda um componente no mínimo curioso nessa história bíblica, ou seja, o castigo da confusão das línguas. Sem dúvida o desespero deve ter sido enorme, mas o ser humano possuia, em contrapartida, a dádiva da adaptabilidade, e essa lhe valeu para fazer da existência na terra algo muito interessante, pois as diferenças culturais, sociais e geográficas, provocaram a necessidade de edificação de torres não menos aldaciosas que a de Babel, as quais, segundo as palavras de Deus ao afirmar que "agora não haverá restrição para tudo o que intentarem fazer"(Gn 11:6), não permitem que a utopia da autodivinização humana se dilua.
Num exercício de reflexão, perguntava-me o que significaria a introdução de uma novela com tal característica no cenário do universo televisivo brasileiro, pois jamais ignorei o fato de que essas produções catalizam, de certa forma, alguma fração do inconsciente coletivo de nossa sociedade. Então um detalhe me chamou atenção: a novela em questão compõe-se do título "Os mutantes - caminhos do coração." Sim, eis o detalhe que me escapara, pois seguir os caminhos do coração nem sempre pode ser uma boa saída para a tentativa de fuga dos limites humanos, os quais são erroneamente interpretados como empecilhos à construção de nossas 'torres profanas'.

Portanto, qualquer semelhança não é mera coicidência, uma vez que a cidade de Ninrode era apenas uma espécie de prelúdio e tentativa frustrada do Super-Man americano, o qual "caiu do céu", como se para lá a geração do poderoso caçador houvesse migrado, transfigurando-se nessa espécie de 'semi-deus', para o qual o destino reservou o solo norte-americano como segunda casa. Que coisa inusitada, a pequena - super - criança agora está sob os auspícios do centro imperial do planeta, o qual, à semelhança de Babel, não poupará esforços para difundir a boa nova a partir de seu aparato ideologizante.
E nós, o que temos com essa história toda? Bem, ao que me parece, a lógica nos dá a relação existente entre a ideologia imperialista dos USA através da ficção e a não menos macabra novela brasileira, pois basta só que utilizemos as premissas certas que a conclusão brotará facilmente.
Vejamos: um país que não se livra da síndrome colonial não supera a limitação de não acreditar em sua própria originalidade; nessa perspectiva, resta-lhe, como "ilha", na qual a 'Santa cruz' é a vigilante torre imperial que não lhe desvia o olhar, produzir, à semelhança cultural do império, os seus super-bizarros, cujos idealizadores parecem conhecer apenas os piores caminhos do coração; a língua também representa um dos componentes essenciais à hegemonia imperial, pois, conquanto Deus a tenha dinamizado, heterogenizando-a como castigo, a soberba torre contemporânea busca uniformizá - la, e sua cartilha não limita - se ao anglicismo que, em certa medida, reflete um salutar dinamismo linguístico, mas expande-se para a idéia de que devemos copiar-lhe qualquer manifestação artística, ou seja, devemos falar a língua deles.
De certo que o avanço proporcionado pela engenharia genética e tantos outros ramos das ciências empíricas têm aberto portas para a imaginação e realizações outrora inconcebíveis, uma vez que, de certa forma, já estamos produzindo mutantes, os quais podem ser identificados pelo percentual de silicone e toxina butolínica que seus organismos carregam, e agora a tv brasileira importa mais um delírio do tio Sam, cuja influência não mais se limitará ao alienante modo de comportamento social através do vestir, falar e intervenções cirúrgicas, mas, quem sabe, pela exacerbação da pseuda crença na epopéia humana de avançar seu aperfeiçoamento genético.
Que Deus nos proteja.

sábado, 26 de julho de 2008

A arte da língua portuguesa




Não te amo mais.Estarei mentindo se disser queAinda te quero como sempre quis.Tenho certeza de queNada foi em vão.Sei dentro de mim queVocê não significa nada.Não poderia dizer nunca queAlimento um grande amor.Sinto cada vez mais queJá te esqueci!E jamais usarei a fraseEU TE AMO!Sinto, mas tenho que dizer a verdade: É tarde demais...

Agora leia de baixo para cima a partir do início de cada frase.
Pura arte de
Clarice Lispector

Falcão: Meninos, famílias e o tráfico




A perplexidade e apatia da sociedade brasileira frente ao crime que seduz, encarcera e ceifa a existência de uma parcela importante de nossa juventude, revelam que a família constitui-se como referencial primaz para o implemento de políticas públicas capazes de operar resultados não apenas pelo pragmatismo da norma jurídica, mas, principalmente, pelo norteamento dos valores da matriz familiar, os quais legitimam, de forma inconteste, a nossa condição humana.
Na direção desse pensamento, encontra-se a dimensão da subjetividade, a qual capacita o indivíduo a humanizar-se, à medida que esse valora o mundo que o cerca, pois o mesmo encontra-se num plano histórico e cultural. Nesse sentido, o engajamento de dois jovens brasileiros, o cantor de rap MV Bill, e o produtor musical Celso Athayde, ambos naturais do Rio de janeiro, extrapola a percepção de seus papeis social e histórico, pois “o bom combate”, expressão cunhada pelo apóstolo São Paulo, encontra, por assim dizer, reflexo e expressão no discurso e ação desses artistas.
Pois bem, percorrer a carreira e guardar a fé identifica o espírito com que Celso e Bill entregaram-se à realização de Falcão-Meninos do tráfico, um aldacioso projeto que consumiu oito anos de trabalho (1998-2006) percorrendo o Brasil em busca de compor um documentário que retratasse a vida de jovens envolvidos com o tráfico de drogas, cuja proposta era colocar em relevo as angústias, contradições, sonhos, esperanças e traços das relações familiares dos mesmos, e, ao ser veiculado na maior emissora do país, provocou fortíssimo impacto na sociedade brasileira.
A proposta inicial desdobrou-se à feitura do livro homônimo, o qual visa reproduzir os bastidores da gravação do documentário, bem como convidar o leitor(es) a uma reflexão sobre o tema, preconizando que “cada um de nós tem que se despir de todo ódio que nutrimos e de todo medo que desenvolvemos a partir dele”.
Fé, sonho e luta são palavras-chaves do livro, as quais transitam de maneira fluida e permanente, e constam na abertura, onde os autores, a partir de um verso, evoluem para a afirmação de que sabem “exatamente o peso do martelo que se encontra do lado de lá, pois por ele também já fomos martelados” - desabafam. Essa imagem traduz uma postura determinada a não permitir que as suas próprias vidas se diluam na perplexidade conveniente dos que fazem do exercício de ‘cruzar os braços’ o seu mantra favorito.
O livro Falcão-Meninos do tráfico foi escrito em gênero eminentemente narrativo, buscando cumprir assim a idéia esboçada por seus autores desde as primeiras linhas, uma vez que afirmam, e o fazem ao longo de toda a obra, que o propósito maior do projeto é o de produzir reflexão nos leitores. E de fato conseguem, à medida que o texto se faz ritmar sob uma linguagem ácida e implosiva, pois os mesmos não deixam passar incólume até mesmo prenoções que circulam em seu próprio inconsciente, fruto da ideologia de uma elite que, segundo Athayde, se faz sintetizar na frase “o sistema é branco e opressor”. Esse dardo inflamado de provocação revela uma certa ambigüidade no aparente sinal de isenção esboçado por eles, ao afirmar que a reflexão se constitui no objetivo fundamental da obra. Tal postura não deve, no entanto, ser lida e reduzida como contraditória, pois não desconsideremos o fato de que Bill e Celso estiveram “no olho do furacão”, ou seja, a opção de romperem com o propalado “determinismo” da falta de oportunidades lhes confere uma desenvoltura tal, que impõe o risco de confundir-se com parcialidade, embora tal elemento seja inevitável, uma vez que o livro caracteriza-se pela coragem dos autores marcarem, de forma inequívoca, sua posição em relação ao tema.
Bill e Celso encabeçam o projeto CUFA -Central única das favelas-, na qual buscam contribuir para o resgate da auto-estima daqueles que o sistema não enxerga. Dar visibilidade ao drama dos falcões se mostra deveras difícil, pois, no livro, os autores acentuam a falência das ações do Estado nessa questão, as quais se reduzem a uma eminente e inoperante política de repressão policial, observando também a falta de interlocução no seio da própria sociedade brasileira ao não enxergar a condição humana desses jovens.
Embora todos reconheçam a indissolubilidade da noção da família constituir-se em partícula-mãe da sociedade, percebe-se que o livro transita numa espécie de campo minado, pois em um dos relatos, Athayde discorre sobre uma, dentre tantas experiências impactantes que teve ao longo do projeto, na qual testemunhou o desespero de duas mães: uma chorava a morte de seu pequeno falcão, e a outra, de seu filho PM, morto em combate. Nesse episódio, não lhe escapa o fato de que as duas são pretas e pobres, vítimas de um mesmo drama, de um mesmo sistema, da mesma violência que lhes marcará a alma para sempre. Ora, onde estaria então o pomo de contradição nesse acontecimento tão corriqueiro? Para os autores, reside na falência do vigor de todos nós: do Estado, pois os seus equívocos e incompetência refletem um descompromisso histórico; da sociedade, pois a mesma desconhece o seu papel de artífice desse mesmo Estado, e opta por enclausurar-se, omitir-se, empurrando-nos a um beco aparentemente sem saída. E nessa ação de “limpeza” perpetrada pelo Estado brasileiro no âmbito das ações policiais, Celso identifica uma cruel realidade, na qual o aparelho estatal funciona como anteparo a uma classe dominante, a qual, bem como o Estado, não compartilhará das lágrimas das duas mães, que, segundo o próprio escritor, “podiam perfeitamente ser irmãs de sangue e, naquele momento, eram irmãs de dor, irmãs de sangue derramado pela arma da ignorância”.
Eis uma das abstrações possíveis que se pode realizar acerca deste inquietante livro, ou seja, a compreensão de que as ações públicas devem guiar-se sob a noção de que elas incidem, em todas as suas dimensões, sobre um núcleo social a que denominamos família, seja qual for a sua configuração, do qual emergem os elementos mais sublimes que saltam da subjetividade humana, os quais nos norteiam a uma vida repleta de inventividade, e que se traduzem em esperança, fé, compaixão, alegria, amor, os quais refletem, em qualquer comunidade, seja ela situada na Vieira Souto ou na Cidade de Deus, o quanto a nossa complexidade nos torna diferentes e tão maravilhosamente iguais.


“Olha aí! É o meu guri!”


A significância da família para os jovens cognominados falcões não é de fácil compreensão, pois a mesma figura, de acordo com os registros verificados ao longo de todo o texto, como o elemento no qual os mesmos se ancoram para justificar a sua permanência no universo do crime, revelando uma contradição perturbadora, uma vez que seu ingresso representa um cisma devastador na esperança de realização de um outro caminho, à medida que as estatísticas acerca da expectativa de vida, bem como um implacável e violento ataque ideológico promovido por todos os segmentos sociais diluem, dia a dia, as chances de uma ruptura com o tráfico de drogas.
A família constitui referencial fundamental à vida de qualquer pessoa, inclusive na dos pequenos falcões, e tal componente é constantemente mencionado nas entrevistas realizadas. Porém, a forma como esses jovens decodificam e interpretam o seu papel no seio familiar reflete um distanciamento, uma evasão de si mesmo, uma quase absoluta solidão, a qual se faz aparentemente superar quando afirmam ser os mantenedores de seus lares. Esse papel encontra correspondência no fato de que boa parte desses garotos tem esposas, filhos, enfim, já incorporaram (forjam) precocemente uma identidade, a qual se realiza através da autonegação, da rejeição de sua própria infância.
“Cara”, alcunha pela qual os autores denominam um dos jovens entrevistados, testifica a percepção de que seu papel está circunscrito ao cumprimento de deveres com a família e o tráfico, pois diz que sua esposa deu à luz um “neném”, e a possibilidade de saída do tráfico se esvai uma vez que pleitear um emprego significaria não poder sustentar a criança: “Minha mulher? Ta lá no hospital agora. Teve neném quase agora. Aí, ta lá no hospital com o neném, aí mesmo é que eu não posso sair mesmo, porque tenho que ajudar ela mais ainda e ajudar minha filha que nasceu agora, entendeu? Se eu sair para ficar procurando emprego, como que eu vou sustentar minha filha? Não tem como”.
A mulher, a mãe, o filho, os irmãos, estão sempre à margem, sempre à espera desse ‘herói’ que faz da vigilância noturna uma transcendência para seguir em frente, na qual reveste-se dos traços que caracterizam o mocinho e o bandido.
Concluir simplesmente que a família desses jovens falhou ao não conseguir cumprir o papel de espaço primeiro para a construção e expansão de um indivíduo pleno do ponto de vista intelectual e afetivo, significa mascarar o problema, conduzindo-nos ao risco de um reducionismo causal que não responde de forma convincente, pois a violência que é parte integrante e constituinte do caráter desses jovens, manifesta-se também como fruto da violência simbólica a que somos todos submetidos, diariamente, nos out doors, Shopping Centers, em todos os tipos de mídia, a qual muitas vezes colocam esses jovens diante de uma encruzilhada, ou seja, permanecer acalentando o sonho de incluir-se no restrito e perverso sistema neoliberal, ou buscar, com instinto e olhos de falcão, ao menos simular essa inclusão.




Falcão: um desafio para todos nós

As contradições de nossa ‘família-pátria-mãe-gentil’ remontam à linha divisória da exclusão, traçada no passado e mantida no presente, que se afigura “grego”, contribuindo cada vez mais para a convicção de que o típico retrato homogêneo da família difundida nos comerciais de margarina, pintados com cores em quadros televisivos, não mais disfarça as vísceras de uma sociedade que adoece em seus paradoxos.
Nesse sentido, os autores de Falcão-Meninos do tráfico, ao assumirem o desejo de reproduzir de forma fidedigna os bastidores do documentário, refletem uma certa rebeldia, pois suas biografias testemunham que ambos tocaram a mesma linha tênue que separa os que tenazmente resistem às sugestões das desigualdades sociais, dos que sucumbem ante as lacunas psíquicas cujo nascedouro reside, dentre outros, também na desagregação familiar.
Nesse contexto, os autores encetam, ainda que de forma implícita, uma sutil convocação ao enfrentamento deste enorme desafio, do qual o Brasil insiste em evadir-se, qual seja criar alternativas que se interponham ao caminho sedutor da criminalidade para jovens vulnerabilizados pela ineficácia das quase inexistentes políticas públicas. Ambos concordam que o tema é extremamente difícil, de acordo com suas próprias palavras, “a questão é ampla, complexa e historicamente concentrada, tal como a renda do país”. Nessa perspectiva, os mesmos compreendem que o agravamento das mazelas sociais além de ligar-se à tão conhecida péssima distribuição de renda vincula-se à não menos péssima distribuição de responsabilidades. Contudo, embora não discursem no sentido de oferecer um “veredicto” para a questão, provocam os leitores ao afirmarem que a interpretação do tema tratado deve ser feita “da forma que cada um conseguir”.
Á medida que se lê Falcão-Meninos do tráfico, percebe-se que, embora os autores observem a transversalidade do tema, pois o mesmo se faz conectar a qualquer dimensão da existência social-humana, ou seja, educação, saúde, habitação, segurança e tantas outras, os mesmos enfatizam que o assunto do livro é a vida desses jovens que se encontram em “situação de risco”. O estímulo que moveu Bill e Celso a se colocarem como porta-vozes de uma questão tão delicada reside, sem dúvida nenhuma, no trabalho que ambos já desenvolvem em suas próprias comunidades - Cidade de Deus e baixada fluminense -, porém não escapa o fato de ambos assumirem, publicamente, o grande referencial que suas mães representam em suas vidas. Celso Athayde expressa no próprio texto a admiração e afeto por aquela que resumiu ser sua maior inspiração; Bill, em entrevista ao programa do Jô da tv globo, já manifestou semelhante sentimento. Portanto, é perceptível que esses referenciais influenciaram em alguma medida esses ativistas das causas sociais num projeto de tamanha envergadura, pois os falcões, ao longo da obra, referem-se com muita freqüência às suas mães, seja para narrar que as perderam muito cedo, como também para justificar a sua entrada para o tráfico de entorpecentes. Embora a identificação dos autores não se evidencie de forma explícita nesse aspecto, ela se faz observar à medida que os mesmos afirmam, de maneira categórica, que o trabalho se funda na vida desses jovens, o que os leva, conseqüentemente, ao centro da relação intrafamiliar dos mesmos, no qual a mãe, - não o pai – figura como o maior de seus vínculos.
Portanto, o livro expressa uma inquietude que extrapola a noção de que o posicionamento de Athayde e Bill reflete apenas um desejo de mobilizar-se em razão de ambos vivenciarem uma realidade que produz três alternativas: engajamento, fuga ou conformismo, mas, também, clareza do quanto o ser humano é um ser político. E esta obra nos mostra que é possível refletirmos e encontrarmos alternativas juntos, pois se os falcões resultam, também, do desmantelamento familiar, essa (família) se fragmenta como conseqüência de nossa inércia, e as saídas estão dentro de nós, a partir de nós mesmos. Nesse sentido, é oportuno parafrasearmos os autores: “Mas não importa o tempo que precisaremos para sermos compreendidos, para sermos ouvidos. A única coisa que nos importa é que a luta tem que continuar.”

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Viagra: uma ironia Olímpica




Queridos amigos, ao deparar-me com a notícia de que as Olimpíadas de Pequim se notabilizariam provavelmente mais pelo uso do viagra do que por quebra de records ou mesmo o já reconhecido talento oriental para realizar aberturas de grandes eventos esportivos, tomei um susto.
Por mais esdrúxula que possa parecer, a informação é verdadeira, e tal preocupação foi manifesta por ninguém menos que o Dr°Parisotto, ex-cientista do Instituto Australiano de Esporte(AIS). O pesquisador figura como principal responsável em testes realizados para descoberta da substância EPO, hormônio cuja sintetização é realizada em laboratório. Ele afirma que o medicamento em questão(Viagra), por promover a vaso dilatação sangüinea não apenas no órgão genital masculino, pode representar importante recurso para os atletas. Ou seja, o medicamento que causou enorme reboliço nos anos noventa, parece querer revigorar seu protagonismo no ambiente das discussões médicas, esportivas e na sociedade de uma maneira geral.
Contudo, este verdadeiro companheiro masculino para todas as horas - ou pelo menos para 'aquelas horas' -, nos coteja com a possibilidade de também constituir-se num grande aliado para bêbes portadores de desajustes pulmonares, informação que obtive ao ligar meu aparelho televisor pela manhã. Isso significa que as crianças que nascem com sérias limitações para respirar podem ser salvas pelo "santo remédio".
Quem diria... o viagra, após sinalizar para a comunidade masculina a possibilidade de "definitiva" vitória sobre a impotência sexual, causa um novo impacto, pois de uma só vez descortinou triplamente seu potencial: além de golpear o pesadelo da impotência, revela-se um aliado eficaz para a élite do esporte mundial e criancinhas, cuja imagem, para as últimas, em hipótese alguma se imaginou associar.
O interessante neste contexto é que o uso do medicamento, embora não deixe muita dúvida ética quanto à finalidade terapêutica e de melhoria na performance sexual, não passa incólume sua utilização quando se trata de ganho em termos de rendimento dos atletas. Traduzindo: 'para amar pode, para competição não pode.'
Bem, essa talvez seja a tônica do Comitê Olimpico Internacional (COI), embora tal decisão, ao que tudo indica, será postergada para o término das Olimpiadas de Pequim.
No entanto, querido leitor(a), há uma pergunta que não quer calar: o que o COI estaria temendo exatamente; uma possível disparidade competitiva oriunda do uso de droga suplementar artificial, ou quem sabe uma possível perda de foco dos atletas uma vez que o remédio prodigio presta-se essencialmente ao auxílio das atividades na alcova? Bem, no primeiro caso, deve-se considerar, pelo menos em tese, que a melhoria da performance nas competições não seriam substancialmente alteradas, pois se imaginarmos um uso coletivo da substância, todos ganhariam proporcionalmente; já na segunda hipótese, nos resta uma consideração intrigante: será que a alta cúpula do Comitê teme o contrário, ou seja, uma queda substâncial de rendimento dos atletas sob hipótese de que o estímulo adcional seja canalizado para a atividade extra competição?
Enfim, resta-nos aguardar o desdobramento desse irônico e inusitado capítulo preambular da aventura olímpica em Pequim.
Sem mais,

Maurício.

25/07/2008.

vôo tenso




Certamente a tecnologia nos remete a um estado de sensações ambivalentes, as quais podem traduzir-se em tensão e euforia - componentes presentes na alma daqueles que se aventuram a voar nas asas da 'liberdade tecnológica.'
Para mim, tenho por certo que esta extraordinária ferramenta chamada internet, me tem despertado ao mesmo tempo encanto e desespero. Sim, pois neste exato momento, acabo de criar o meu blog, e não sei ao certo o que isso significa. Para mim, que sou um curioso inveterado por quase tudo, não faço muita idéia do significado de tal possibilidade; só sei que esta multiplicidade de informações internáuticas me conduziram à criação do blog, e continuo a me perguntar para onde isso me levará e qual o significado dessa maravilha.
Calma, amigos, não quero que a perplexidade - que já inflama por certo os seus instintos - desperte o desejo de me apedrejar, uma vez que a percepção de que estou a agir como criança em tenra idade a desbravar mundo desconhecido, certamente já se fez desnudar aos seus olhos; e, para isso, o melhor argumento que tenho para aplacar tal pulsão é o fato de que não passo de um mediocre curioso, sem grandes ambições neste vasto oceano de comunicação. Desejo, ingenuamente, compartilhar um pouco de minha euforia e desespero, ao escrever estas linhas (e por que não dizer: mal traçadas linhas).
Bem, o fato concreto desta minha primeira postagem, é afirmar-lhes que este espaço visa compartilhar conhecimento, e buscar, junto aos que sentem-se envolvidos como eu nesta eufórica e desesperadoramente fantástica via global, aprender, cominicar, falar sobre fotografia, cinema, política, enfim, um pouco de tudo que acossa a alma humana; ou seja, fundamentalmente dizer, verbalizar o que geralmente se ignora: aquelas pulsões da alma que ensejam momentos de reflexão e, sobretudo, aprendizado.
O meu anseio é poder fazer deste espaço um marco de reflexão sobre assuntos diversos, buscando diálogo permanente com este infindável universo da cultura e história humanas, onde tentarei ressaltar minhas predileções sem temer o conflito de idéias, pois a crise - conquanto não esteja dizendo nada de novo - constitui-se num manancial de infindáveis oportunidades.
Portanto, queridos amigos, não apelo à vossa paciência, pois tal qual um candidato que se exaspera às vésperas de uma eleição, estou a me comportar, buscando, tanto quanto possível, tecer palavras meticulosamente escolhidas, as quais traduzem, de acordo com Michael Foucalt, uma relação de força, de jogo, de afrontamento mesmo, embora o "A que endurecer, sem perder a ternura jamais", de Che Guevara, melhor ilustre o misto de sensações que imanta o meu coração neste momento.
No mais, companheiros, desejo não apavorar-me em demasia com o penhasco de descobertas neste meu primeiro vôo, o qual não é propriamente aquilino, e, se o é - embora corra o risco de ser interpretado como pretencioso -, é porque não encontrei analogia melhor.
Megalomanias à parte, espero compartilhar da companhia dos que não se deixam subjugar pela antipatia gratuita, pelo descrédito imediato, e que buscam atuar, no exercício da leitura,
como arquétipos do que lecionou o apóstolo Paulo: "lê de tudo e retende o bem".
Com carinho,

Maurício.



25/07/2008